8.3.07

Dia 8 de Março: parabéns para quem?

"Para os homens os seus direitos, e nada mais.
Para as mulheres, os seus direitos, e nada m
enos".

As referências sobre o porquê do dia oito de março ser considerado o Dia Internacional da Mulher são variadas. Desde a história das operárias americanas queimadas em uma fábrica no início do século XX até ações de revolucionárias russas em 1917 que desencadearam a revolução em seu país. O fato é que no fim dos anos vinte do século passado essa data já havia se consolidado. E esse momento de organização das trabalhadoras faz parte de todo um processo histórico de transformações sociais que colocaram as mulheres em condições de lutarem por direitos, igualdade e autonomia, participando do contexto social e político que motivaram a existência de um dia de comemoração que simbolizasse suas lutas, conquistas e necessidade de organização.

A partir da década de 70 começam a surgir os chamados Estudos de Gênero. Dentro dos marcos do capitalismo, esses estudos são importantes porque tornam cada vez mais visível a desigualdade da mulher e, em alguns países, sobretudo nos países imperialistas, essa produção acadêmica de fato conseguiu ampliar os espaços da mulher na sociedade. No entanto, é preciso questionar essa postura porque, ao centrar a opressão da mulher na desigualdade de gênero, restringimos essa luta aos muros do capitalismo – tornando-a uma luta por reformas dentro do sistema capitalista – e ignorando o problema de classe, levando a uma política de buscar unir todas as mulheres, independente da posição que ocupam no modo de produção. Deparamo-nos então com duas alianças desiguais. A primeira entre mulheres que lutam pelo fim de uma opressão sexual, ignorando o limite de classes e, conseqüentemente, sua inserção no mundo do trabalho. A segunda entre homens e mulheres de uma mesma classe, que vivem a hierarquia de gênero, mas se identificam por sua posição no modo de produção e, nesse caso, tornam fragmentada a consciência de classe, fazendo com que a organização de gênero promova fraturas no edifício da consciência de classe.

Para que possamos contrapor essas situações de maneira objetiva é preciso entender um processo que Engels já nos chamava a atenção no fim do século XIX, no qual a submissão da mulher tem origem nas condições socioeconômicas, em um momento em que interessava ao homem dominar os bens materiais e ter certeza de quem eram seus filhos, que herdariam esses bens, dando origem assim a família monogâmica, em que o homem controla os processos produtivo e reprodutivo. Perceber que a mudança de uma organização inicialmente matriarcal, em que os filhos e as filhas pertenciam a mãe, para a patriarcal, em que o homem controla toda a (re)produção é fundamental para não cairmos no senso-comum de que as mulheres são naturalmente mais frágeis, dóceis e delicadas. Por conta dessas designações, às mulheres é dada a responsabilidade pelo trabalho doméstico, cuidado dos filhos, doentes e idosos. Por isto, são elas que arcam com as conseqüências dos serviços de saúde, educação, de transporte, com a falta de creches e moradia. O dia oito de março não é simplesmente um dia festivo, no qual as mulheres são lembradas e presenteadas. Será que as profissionais do sexo, as catadoras de papel, as operárias, as donas de casa, as carrinheiras são realmente lembradas?

Vale ressaltar que durantes esses anos por motivo de muitas lutas, algumas reivindicações foram conquistadas. Lutas essas que ainda continuam por direitos básicos que fazem um recorte claro de classe como, por exemplo: legalização do aborto com garantia pelo SUS (por que mulheres que têm condições não se matam com agulhas e Zitotec) e juntamente a isso, ampla política de acesso a métodos contraceptivos; creche em escolas, universidades públicas e no trabalho; delegacias de mulheres nos interiores e salários iguais aos dos homens, pois não ganhammos menos a toa, é para serem mais exploradas pelo capitalismo.

Se o Movimento Estudantil faz uma opção de classe e quer efetivamente lutar pelos interesses dessa classe, é preciso se dar conta de que existem problemas muito fundamentais na estruturação dessa classe, e que podem comprometê-la como um todo. Dizer que a problemática de gênero se encontra no campo das subjetividades e que não influi na luta contra o capital é ignorar a primeira divisão do trabalho existente, que é aquela entre o homem e a mulher para a procriação. Por fim e para além, não basta superarmos a problemática de gênero, mas devemos superar todo esse sistema que oprime, que não oferece condições iguais entre os seres humanos, e que definitivamente é a gênese de todas as opressões.

Saudações estudantis,

ExNEEF – 15 anos
Gestão 2006/2007

retirado do Boletim virtual nº 3 - fevereiro/março - Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física

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